Política

O que é fascismo? Entenda mais sobre esse termo usado na política

Em um momento de maior polarização política no Brasil, ou seja, de divergências de atitudes entre extremos ideológicos políticos, alguns termos passaram a ser mais vistos nas conversas e publicações em redes sociais de pessoas que se interessam por debates em torno do assunto, como é o caso das expressões “coxinha” ou “comuna”, que dizem respeito às gírias usadas no diálogo popular para descrever indivíduos conservadores ou comunistas, respectivamente.

Além destes, outro termo que passou a ser utilizado na maioria das abordagens políticas na internet no contexto de partidos e sistemas de governo é o “fascista”, que teve o seu conceito amplamente discutido por especialistas em ciência política e cidadãos comuns no cotidiano no pleito das Eleições 2018 aqui no Brasil.

Mas, afinal, quais são as características que tornam um indivíduo ou personalidade política fascista? Apesar do maior acesso às informações na internet, o fato é que nem todo mundo sabe o que significa essa palavra e o que nem o que é o movimento do fascismo em si. Pensando nisso, no nosso artigo de hoje, você entender melhor sobre a história do fascismo e quais são as características de um indivíduo ou grupo fascista.

Acompanhe nos próximos parágrafos…

O que é Fascismo?

O fascismo é um regime autoritário político que surgiu em 1920, dois anos após o fim da Primeira Guerra Mundial, na Itália. Trata-se de um sistema de governo liderado por Benito Mussolini que marcou de forma trágica o século XX, espalhando-se por vários países da Europa, como é o caso de Portugal, Espanha e Alemanha, e que até os dias de hoje desafia intelectuais estudiosos que buscam entender a sua história e natureza.

No Brasil, esse movimento serviu de modelo para a criação do “Estado Novo”, implantado em território nacional em meados de 1937, por Getúlio Vargas. O nome fascismo deriva do vocábulo italiano “fascio”, que quer dizer “feixe”, o que justifica a origem de um dos primeiros símbolos fascistas, o fascio littorio.

Na Roma Antiga, o fascio littorio nada mais era que um machado revestido por varas de madeira usado pelos chamados lictores, que eram os guarda-costas dos magistrados de poder do Império Romano. O instrumento era usado para impor punições corporais, além de servir como símbolo de união e autoridade.

Foi neste último sentido que Mussolini adotou o símbolo para seu novo movimento e partido. De uma maneira geral, pode-se afirmar que o seu conceito está ligado a uma conduta política extremamente autoritária, marcada pela militarização dos conflitos, pelo nacionalismo e por uma preocupação obsessiva com a decadência de uma nação ou comunidade.

Avesso às formas modernas de democracia, o regime fascista recorre à violência, criando um inimigo (externo ou interno) que deve ser exterminado para garantir a supremacia e segurança de um grupo considerado superior. Normalmente, o pensamento fascista se origina e ganha força em contextos de crises, sejam estas de cunho econômico, político ou social, apresentando-se como uma solução radical.

No caso da Itália, onde esta corrente ideológica surgiu, havia uma grave crise econômica pós-guerra, gerando vários problemas de ordem social, especialmente em, relação aos trabalhadores do setor industrial, momento no qual Mussolini prometia, com o fascismo, trazer de volta os tempos áureos.

Na prática, em um movimento fascista, costuma-se incitar sentimentos de injustiça e sofrimento para dar a ideia de que o grupo que o defende é, na verdade, a grande vítima de uma situação a ser controlada e revertida e que, para isso, há um inimigo que deve ser exterminado. No caso do Nazismo, por exemplo, que é o fato histórico mais conhecido dentro deste regime, as “vítimas” eram os alemães brancos e os “inimigos” os negros, comunistas, homossexuais, judeus e ciganos.

Além disso, no fascismo, apela-se mais aos fatores emocionais que a argumentação racional para adentrar em uma missão de regeneração nacional que se apresenta na figura de um líder carismático que se intitula o responsável por salvar a nação.

Atualmente, o termo é usado popularmente para denominar como “fascismo” ou “fascista” um movimento ou indivíduo que defende a repressão violenta para resolver problemas da sociedade.

Quais as características de um movimento fascista?

O fascismo se caracterizava por defender as seguintes características:

  • Autoritarismo: a autoridade do líder era indiscutível, pois este era considerado o mais preparado para atender exatamente ao que a população necessitava.
  • Totalitarismo: o Estado no controle de todas as manifestações da vida nacional e individual.
  • Nacionalismo: a nação era considerada um bem supremo, o que significa que qualquer sacrifício deveria ser exigido e feito pelos indivíduos em nome dela.
  • Expansionismo: considerava-se uma necessidade básica da nação expandir as fronteiras a fim de conquistar o “espaço vital” para que ela se desenvolvesse.
  • Anti-liberalismo: era a favor de algumas ideias capitalistas, como a propriedade privada e a livre iniciativa das pequenas e médias empresas. Porém, também defendia a intervenção estatal na economia, a nacionalização de grandes empresas e o protecionismo e algumas correntes fascistas.
  • Militarismo: a salvação nacional vinha por meio da ação militar, da guerra, da luta.
  • Corporativismo: ao contrário do conceito de “um homem, um voto”, o fascismo pregava que as corporações profissionais deviam eleger os representantes políticos. Os facistas também acreditavam que somente a cooperação entre classes garantia a estabilidade da sociedade.
  • Anti-comunismo: o fascismo batia de frente com a ideia da abolição da propriedade, da , da luta de classes, da igualdade social absoluta.
  • Hierarquização da sociedade:segundo o movimento, a visão de mundo só cabia aos mais fortes, que deviam agir em nome da “vontade nacional”, conduzindo o povo à prosperidade e segurança.

O começo de tudo: como surgiu o fascismo na Itália?

Como você leu anteriormente, a Itália passava por uma séria crise econômica, política e social após a Primeira Guerra Mundial, mesmo saindo do conflito como um dos países vitoriosos. O país foi completamente ignorado nos tratados pós-guerra e acabou não conquistando benefícios que compensassem as perdas sofridas durante o combate.

Na busca por soluções para a nação, houve um crescimento na parcela de partidos mais alinhados à esquerda, como é o caso dos socialistas, comunistas e anarquistas, o que acabou acarretando também no surgimento de grupos fascistas. Foi assim que Benito Mussolini, antigo socialista e militar, destacou-se como líder do movimento e fundou o grupo que ficou conhecido como Fasci d’Azione Rivoluzionaria, em 1914, e passou a se chamar Partido Nacional Fascista (PNF), oito anos depois.

No mesmo ano que o Fascio de Combate virou o PNF, isto é, em 1922, os seguidores fascistas realizaram a Marcha sobre Roma, exigindo que o Rei Vitor Emanuel III desse mais poder ao Partido Nacional Fascista. Pressionado, o rei então convidou Mussolini para ser primeiro-ministro do governo da Itália.

Em 1924, depois de uma ampla reforma eleitoral que beneficiava os interesses do PNF, os fascistas conquistaram ⅔ do Congresso, mesmo sob acusações de fraude eleitoral. Foi aí que começou a ditadura fascista. O “duce”, como era chamado Mussolini, era o líder da nova política italiana. Neste período, meios de comunicação foram fechados, o poder legislativo enfraquecido, a pena de morte legalizada e todos os partidos – com exceção do PNF, é claro – foram extintos.

Com isso, o Estado forte passou a ser o único controlador de economia e das organizações trabalhistas. Foi somente na crise de 1929 que o cenário econômico da Itália durante o regime fascista começou a ficar de “pernas bambas”. Para tentar reverter o quadro, o governo Mussolini decidiu entrar para a corrida imperialista, a fim de tentar restaurar os domínios do antigo Império Romano.

Após invasões das tropas italianas à regiões da África, começaram as tensões diplomáticas que levaram a Europa para a Segunda Guerra Mundial, momento em que Mussolini aproveitou para se aproximar do regime nazista da Alemanha. No entanto, em 1943, o fascismo italiano quase entrou em declínio, quando os países aliados invadiram o país durante os conflitos.

Na ocasião, os nazistas decidiram dar uma segunda chance ao ditador, ajudando-o a reocupar a Itália. Os alemães resgataram-no e o levaram para o norte do país, onde ele tentou retomar seu governo. No fim da Segunda Guerra, em 1945, os aliados tomaram o norte. Guerrilheiros da resistência italiana capturaram e fuzilaram Mussolini. Após a sua trágica morte, o corpo do ditador foi exposto em praça pública.

Nazismo e fascismo: a chegada do regime à Alemanha

Apesar de muitas pessoas confundirem os dois termos, usando-os como sinônimos, o nazismo e o fascismo possuem diferenças entre si. As únicas semelhanças entre essas duas correntes são os regimes políticos em caráter totalitário e nacionalista, além de ambos terem sido originados no século XX, na Europa, e terem ganhado grande popularidade e adeptos dentro da classe operária, por trazerem medidas de apoio ao setor.

No entanto, enquanto o fascismo foi implantado na Itália por Benito Mussolini, o nazismo foi um movimento inspirado no pensamento fascista nascido na Alemanha, baseado no antissemitismo, liderado por Adolf Hitler, após o fim da Primeira Guerra Mundial. O sistema nazista acreditava na existência de uma raça superior (raça ariana), motivo que o levou a tentar eliminar outras raças para trazer prosperidade ao Estado.

Tal como aconteceu no fascismo, a implementação do nazismo também se deu a partir de uma crise econômica no governo alemão, principalmente por conta do Tratado de Versalhes, o qual declarava oficialmente a Alemanha como derrotada na guerra e, portanto, aplicava sanções ao país, como a proibição de qualquer produção de armas pesadas e perda de territórios, além de obrigar o governo a pagar uma indenização aos países vitoriosos nos conflitos.

Foi esse cenário em território alemão que levou os alemães a aflorarem um sentimento de revanche para com os demais países, o que acabou fortalecendo o extremismo nacionalista no país. No período pós-guerra, o regime de monarquia na Alemanha chegou ao fim, dando início à República de Weimar.

Nesta época, o governo alemão conseguiu alcançar resultados satisfatórios na economia, especialmente por causa dos investimentos estrangeiros, principalmente dos Estados Unidos. No entanto, com a crise de 1929, a Alemanha voltou a ficar com a economia enfraquecida, o que tornou a situação crítica novamente.

Com essa deixa, o movimento nazista passou a conquistar seguidores com discursos e promessas de retomar o crescimento do país a partir de um Estado Forte. Nas eleições de 1932, os nazistas já haviam conquistado 37% dos votos e 230 cadeiras do parlamento articulados dentro da República de Weimar e representados pelo chamado Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães.

Um ano depois, os adeptos ao Partido Nazista pressionavam o presidente Paul Von Hindenburg para que ele concedesse mais poderes a Hitler. Foi assim que Hitler foi indicado a chanceler e, mais tarde, assumiu o cargo de presidente, além de se auto nomear “o Führer ”. A partir daí, começava o regime nazista na Alemanha.

Dentre as principais características da ditadura de Adolf Hitler, podemos citar a exaltação do líder, a militarização da sociedade alemã e o controle através da intensiva máquina de propaganda, que usava os meios de comunicação para espalhar ideias nazistas em massa.

Dentre as principais ideologias compartilhadas pelo movimento está o antissemitismo, marcado pelo racismo, eugenia e superioridade do homem branco germânico, a chamada raça ariana. Essa medida culminou na morte de mais de 6 milhões de pessoas em campos de concentração, a grande maioria judeus.

Além disso, tal como no regime fascista, o nazismo também acreditava em uma visão expansionista, fundamentada na crença de que o mundo deveria ser dominado pela raça ariana. Foi este o motivo que levou Hitler a tentar invadir diversos territórios, logo no início da Segunda Guerra Mundial.

O declínio do governo nazista de Hitler começou em 1941, após uma tentativa de invadir a União Soviética. Com o inverno severo, as tropas do governo alemão foram cercadas e dominadas. Posteriormente, em 1945, o Führer foi derrotado e seu regime chegou ao fim.

Fascismo no Brasil

O fascismo também deu as caras em terras tupiniquins, em meados de 1932, com o Integralismo. O movimento teve como líder Plínio Salgado, fundador do partido Ação Integralista Brasileira, que tinha como lema o termo “Anauê”, na língua tupi-guarani, carregava a letra grega “sigma” como símbolo e vestia simpatizantes com camisas verdes.

O regime do Integralismo defendia um Estado forte, mas, ao contrário dos movimentos fascista e nazista, rejeitava totalmente o racismo, por se tratar de uma doutrina incompatível com a realidade brasileira. Anticomunista, Plínio se aproximou e apoiou Getúlio Vargas até o golpe de 1937, quando a AIB foi fechada, bem como os demais partidos brasileiros.

Posteriormente, alguns militantes integralistas promoveram o Levante Integralista de 1938, mas sem sucesso, já que seus membros foram rapidamente sufocados pela polícia. No fim das contas, Plínio Salgado foi conduzido ao exílio em Portugal e os seus companheiros presos.

Além disso, o chamado Estado Novo (1937-1945) do governo de Getúlio Vargas também trouxe algumas características fascistas à política do país no período, tais como censura, polícia política, unipartidarismo e perseguição a comunistas. Por outro lado, não foi expansionista e nem escolheu um “inimigo” para ser alvo de ataques. Ou seja, de certa forma podemos dizer que, na prática, o Estado Novo foi mais nacionalista do que fascista.

Como identificar um movimento fascista nos dias de hoje?

Apesar de manifestar algumas variações – o que está diretamente relacionado à época e ao lugar onde o movimento aparece – o fascismo apresenta algumas características típicas, que podem se repetir com o decorrer dos anos. No campo político institucional, por exemplo, o regime aparece por meio de um Estado forte, caracterizado pela presença de um único partido, que exerce controle sobre todas as áreas sociais.

Portanto, todas as decisões são tomadas de maneira hierárquica e autoritária, desde o líder supremo até os seus subordinados. No âmbito repressivo, a ação do pensamento fascista costumam contar com a ajuda de uma polícia bem estruturada e truculenta, responsável por controlar opiniões e grupos divergentes.

No que diz respeito à esfera civil, a violência também é motivada pelo fascismo através da organização de milícias compostas, principalmente pela juventude que adere ao fascismo. E por falar em juventude, ela é exaltada junto com virilidade no movimento fascista, já que a estética é extremamente importante nesse tipo de regime. Rituais, propagandas e símbolos atuam mais do que os argumentos no objetivo de reforçar as ideias fascistas e convocar a população a participar de modo ativo.

Fascismo é de direita ou esquerda?

Dentro do aspecto político, o fascismo é considerado como parte integrante da extrema-direita. O regime vai de encontro a movimentos como o socialismo e liberalismo, especialmente no que se refere à centralidade do indivíduo. Dentro desse ideologia, os interesses da nação como um todo e das massar se sobrepõem aos individuais, sendo que a única exceção para que estes últimos sejam valorizados quando o cidadão está a serviço da defesa da pátria.

Uma característica fundamental do fascismo é o etnocentrismo, isto é, a ideia de superioridade de um grupo para o outro. Tendo isso em vista, a regra é para que aqueles que não forem considerados como parte da comunidade sejam discriminados e perseguidos, o que inclui indivíduos de outras etnias, raças e nacionalidades, ou simplesmente aqueles que discordem do fascismo.

Estes devem ser combatidos como uma ameaça à integridade da nação. Já em relação ao cenário político exterior, um sistema fascista tende a ser extremamente imperialista.

Gostou desse artigo? Ele te ajudou a entender o que é o fascismo ou qual é o perfil de um indivíduo fascista? Para defender a democracia, é fundamental entender a experiência histórica do fascismo para além de seus casos mais óbvios, pois este está longe de ser um pensamento político completamente superado.

Ao contrário disso, os sentimentos e princípios que sustentam o fascismo são recorrentemente despertados em tempos de crise, então é bom sempre ficar de olho!

Até a próxima…

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